Poucas horas depois de vencer o concurso Miss São Paulo, representando a cidade de São Bernardo do Campo, a protótipo Milla Vieira viu suas redes sociais serem invadidas por comentários racistas. “Vc não tem venustidade pra ser miss! E vc sabe disso!”, escreveu um usuário do Instagram identificado porquê Natan Silva, do qual perfil é privado. Sem nenhuma publicação, ele usa no avatar uma foto de personagem de figura entusiasmado. Um perfil mercantil escreveu: “Vc é a MISSericórdia só se for kkkkkk”.
O caso chegou até a organização do concurso, que publicou um vídeo de repúdio aos ataques. “Não existe lugar na organização Miss Universe Brasil, porquê não deve subsistir lugar no mundo, a pessoas que defendem o racismo“, disse Gerson Antonelli, CEO do concurso. No vídeo, ele ressalta que a protótipo vai participar da disputa pátrio e sugere que ela bloqueie os ofensores. “Nós estamos com você”, disse ele, em recado à Milla.
Antonelli ressalta que o caso pode ser enquadrado na lei 7.716, já que, desde janeiro de 2024, o delito de injúria racial é equiparado ao delito de racismo. Além de penas mais severas, a mudança na legislação exclui a urgência de representação da vítima, ou seja, qualquer pessoa pode fazer a denúncia.
No caso de Milla, por se tratar de um delito virtual, os nomes de usuário e prints dos comentários são informações importantes para que os criminosos sejam localizados. Os rastros digitais dessas contas ficam armazenados nos provedores de internet por seis meses e as autoridades policiais podem exigir o rastreamento desses dados.
“Quando o responsável é incógnito, em São Paulo tem a Decradi, que é a Delegacia de Crimes de Raça e Intolerância Religiosa”, explica o jurista criminalista Flávio Campos, membro da Percentagem de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Eu acho bastante importante utilizar a Decradi, principalmente nesses casos de responsável incógnito, justamente para serem requeridos os endereços de IP e o chegada às pessoas”. O Internet Protocol (IP) é um código que permite identificar o computador ou celular de origem dos comentários.
Além dos xingamentos no Instagram de Milla, perfis de extrema direita publicaram um vídeo questionando o resultado do concurso e comparando uma foto da vencedora com imagens de outras candidatas, todas brancas. Milla juntou os prints e pretende levar o caso adiante. “Eu não tenho sossego, eu não tenho sossego. É 24 horas por dia as pessoas ali no meu perfil me xingando, me difamando”, desabafa.
Nos dez anos de curso, Milla foi somando conquistas. Atualmente, ela é contratada de uma das agências mais famosas do mundo e já fez trabalhos para grandes marcas nacionais e internacionais. No entanto, desde que teve seu nome divulgado porquê vencedora do concurso, no dia 24 de julho, os comentários violentos se multiplicaram em fotos atuais e antigas no seu perfil do Instagram. Além dos xingamentos, alguns dizem que ela conquistou o primeiro lugar por meio de quota e outros falam que ela não mereceu o prêmio.
“Eu não acredito que vai parar. Quando eu for para o Miss Brasil, vai continuar, senão permanecer mais poderoso”, lamenta. Por isso, ela acredita que é importante fazer a denúncia e transformar o caso público. “Talvez um dia a gente consiga mudar essa história. Talvez um dia a gente não precise provar milénio vezes que a gente merece estar onde a gente está”, diz.
Edição: Thalita Pires