O partido germânico de extrema direita Opção para a Alemanha (AfD) venceu, neste domingo (1º), as eleições no estado da Turíngia e está logo detrás dos conservadores na vizinha Saxônia. O resultado não tem precedentes desde o pós-Segunda Guerra e um duro golpe para o chanceler Olaf Scholz, segundo pesquisas de boca de urna.
“Nosso país não pode e não deve se avezar a isso. A AfD faz mal à Alemanha: enfraquece a economia, divide a sociedade e arruína a reputação de nosso pais”, disse o chanceler.
A AfD foi criada em 2013 e radicalizou-se depois da grande crise migratória de 2015, processo que se intensificou depois a pandemia de covid-19 a guerra russa na Ucrânia, que enfraqueceu a maior economia da Europa. O partido obteve vários sucessos eleitorais nos últimos meses e o melhor resultado da sua história nas eleições europeias de 9 de junho.
O partido de extrema direita obteve uma ampla vitória com tapume de 33,1% dos votos, primeiro dos conservadores da CDU (24,3%), segundo as primeiras pesquisas depois o fechamento das seções eleitorais na Turíngia – um dos menores estados federados da Alemanha.
“Estamos prontos para assumir as responsabilidades de governo”, disse à TV pública o candidato a governador da AfD na Turíngia, Björn Höcke, que já foi sentenciado por uso de slogans nazistas e foi considerado “fascista” por um tribunal germânico.
Em seguida a vitória eleitoral da {{sigla}}, o presidente do Raciocínio Médio dos Judeus, Josef Schuster, alertou para uma prenúncio à sociedade livre e tolerante em seu país. “A Alemanha está cambaleando. Será que podemos nos restaurar desse golpe?”, escreveu em cláusula de opinião publicado pelo tabloide germânico Bild nesta segunda-feira (2).
O vice-presidente do Comitê Internacional de Auschwitz, Christoph Heubner, afirmou que o resultado mina a crédito na Alemanha que os sobreviventes do Sacrifício, e afirmou, citado pela DW, que o partido “é mais do que só pintado de marrom [alusão à cor adotada pelos nazistas] e é marginalizado até mesmo por outros partidos de extrema direita na Europa por sua relação com o pretérito”.
Estas eleições acontecem em um envolvente mormente tenso, mais de uma semana depois do triplo assassínio com faca atribuído a um sírio em Solingen, no oeste do país. O ataque chocou o país e alimentou o debate sobre a imigração.
Os líderes da AfD tentaram se aproveitar da indignação causada pelo ataque de Solingen e acusaram sucessivos governos federais de terem semeado o “caos”. O suposto bandido de Solingen, suspeito de manter relações com a organização jihadista Estado Islâmico (EI), havia evitado uma ordem de deportação. Sob pressão, o governo de Olaf Scholz anunciou o endurecimento das regras sobre porte de armas e controle de imigração.
Embora a vitória da AfD na Turíngia seja inédita desde o pós-guerra, é pouco provável que o partido governe a região, pois as outras formações rejeitam qualquer coalizão com essa legenda. Na Alemanha, o sistema de governo nos estados também é parlamentarista.
“Os eleitores sabem que não vamos formar uma coalizão com a AfD”, lembrou, neste domingo, o secretário-geral da CDU, Carsten Linnemann, defendendo que seu partido deve liderar as tratativas para formar o governo. Na Saxônia, onde também ocorreram eleições, a conservadora CDU, da ex-chanceler Angela Merkel, tem uma pequena vantagem, com 31,7% dos votos, seguida de perto pelo AfD, com 31,4%.
Negociações
O novo partido BSW registrou um progresso espetacular com mais de 10% dos votos nas duas regiões. Liderado pela ex-comunista da Alemanha Oriental Sahra Wagenknecht, o partido pode ser chave para evitar que a AfD participe da formação do governo na Turíngia.
A CDU pode vir a formar uma coalizão com a BSW na Turíngia e na Saxônia – regiões que pertenciam à antiga República Democrática Alemã (Alemanha Oriental), apesar das divergências em relação às políticas econômicas e política externa.
*Com AFP e DW
Edição: Leandro Melito