Megamente e as conseqüências de um ambiente falho (parte 1) – Dr. Lucas Nápoli

Muitas produções cinematográficas dirigidas ao público infantil buscam proporcionar às crianças o aproximação a qualquer ensinamento ético mais do que meramente entretê-las com animações coloridas e engraçadas. Inspiram-se, para tanto, nos tradicionais contos de fada que sempre traziam de maneira mais ou menos explícita a chamada “moral da história”. Esse é o caso da animação “Megamente” produzida pela Dreamworks. No entanto, não pretendo abordar neste texto a sabedoria subjacente ao filme – ainda que eu o pudesse, pois o filme é, de trajo, prenhe em ensinamentos – mas a riqueza psicológica que nele se faz presente. Farei, portanto, uma estudo psicanalítica da película à voga das que proliferavam fartamente nas primeiras décadas de existência da psicanálise.

O ideal seria que todos os leitores assistissem ao filme antes de lerem oriente texto. Todavia, porquê sei que isso não acontecerá, procurarei fazer minhas considerações teóricas ao mesmo tempo em que narrativa o desenrolar da animação.

Megamente e Sr. Perfeitinho

A história se inicia com Megamente, um extraterrestre azul, sendo enviado por seus pais, ainda bebê, para fora de seu planeta de origem, o qual estaria em risco. No trajeto, Megamente encontra outro bebê, que ele labareda de Sr. Perfeitinho. Ambos aterrissam na Terreno. O Sr. Perfeitinho será criado por uma família normal do interno e Megamente por presidiários, pois acabara indo parar numa prisão. Numa leitura psicanalítica apressada, poderíamos pensar cá que Megamente havia sido disposto em um envolvente falho ao passo que Sr. Perfeitinho havia ido parar num envolvente suficientemente bom. Adiante veremos porque essa tradução não é adequada.

Megamente e Sr. Perfeitinho estudam numa mesma escola, mas experimentam dois tipos distintos de relação com o envolvente. Enquanto Sr. Perfeitinho recebe elogios pela exibição de seus superpoderes porquê a capacidade de voar, Megamente é desprezado e rejeitado por seus professores e colegas por ser desastrado e não conseguir realizar adequadamente tarefas que demandam habilidades físicas. Não obstante, Megamente possui uma qualidade intelectual muito supra da média de seus colegas (o que é indicado pelo seu nome-próprio e por sua enorme cabeça). Com tamanha perceptibilidade, o jovem ET azul era capaz de bolar os mais mirabolantes planos para se vingar dos que o haviam repudiado. Ao se dar de seu potencial e do uso que faz dele, Megamente chega a uma surpreendente epílogo sofística: se ele possui aquela incrível capacidade para pensar e se o que ele só consegue pensar é em modos pelos quais pode retaliar seu envolvente, logo aquilo para o qual ele tem mais talento é… ser mau! A partir daí, Megamente se tornará o grande vilão da cidade (Metrocity) e terá porquê opositor justamente o Sr. Perfeitinho que se tornará o herói Metroman.

O vilão Megamente porquê falso-self

Porquê eu já disse em outro texto, do ponto de vista winnicottiano, ninguém é mal espontaneamente, em virtude da atuação de uma suposta pulsão de morte. Para Winnicott, o mal é sempre reativo e se apresenta porquê a única saída encontrada pelo sujeito para defender-se contra uma prenúncio à sua ininterrupção do ser perpetrada por uma falta ambiental. No caso de Megamente essa tese é confirmada com nitidez. Ele se torna vilão porquê uma reação a um envolvente que não o acolheu, que o rejeitou.

O trajo de o personagem ser intelectualmente superdotado é uma daquelas coincidências que costumam levar nós, psicanalistas, a supor que os artistas possuem um conhecimento intuitivo das realidades psíquicas. Com efeito, ao conceber Megamente porquê um tipo altamente inteligente, mas pouco habilidoso em tarefas que exigem desempenho corporal, o responsável do filme retratou com exímia fidelidade algumas descobertas winnicottianas. Com efeito, Winnicott notou a partir de sua experiência com adultos e bebês que quando o envolvente no qual a párvulo está se constituindo falta tanto a ponto de impedir que o sujeito faça as pequenas correções naturais que o permitem continuar tendo um desenvolvimento saudável, o bebê é obrigado a substituir sua espontaneidade por uma atitude sintético criada unicamente para se conciliar ao envolvente caótico em que se encontra. Nesse sentido, a lógica proveniente é invertida: em vez do envolvente se conciliar ao bebê, é o bebê quem tem que se conciliar ao envolvente. A essa atitude sintético, Winnicott chamou de “falso-self”. No caso de Megamente, o falso-self é ilustrado por sua identidade de vilão, que é criada por ele não espontaneamente, mas com a finalidade de se conciliar àquele envolvente que não o amava porquê ele naturalmente era.

Mega-mente sem vida

Winnicott diz que, em muitos casos, a geração do falso-self vem acompanhada de uma exacerbação da atividade mental. O leitor que já leu meus textos sobre Winnicott cá no blog sabe que o psicanalista inglês faz uma diferenciação entre psique e mente. Psique é a elaboração imaginativa que nós fazemos da nossa experiência corporal. Mente é a função que utilizamos para entender o mundo. E só precisamos entender o mundo porque ele nem sempre está de concórdia com nossas expectativas, ou seja, porque o mundo falta em se conciliar a nós. Não obstante, no início da vida, o nosso mundo é bastante reduzido, trata-se somente da mãe ou de quem quer que esteja cuidando de nós. Porém, nesse período inicial nós precisaríamos que esse mundo não falhasse ou falhasse pouquíssimo, pois assim poderíamos utilizar a função mental somente quando fosse estritamente necessário e essa função estaria conectada com o todo de nossa experiência psicossomática. Se o envolvente falhar muito, o que acontecerá? Nós teremos que utilizar a mente muito mais do que deveríamos naquele momento para entender aquele excesso de falhas. Isso fará com que a mente adquira um funcionamento independente do restante da nossa experiência com o mundo. Ficaremos mais inteligentes, intelectualizados, mas a função mental não estará integrada à nossa vida porquê um todo.

Em Megamente, essa dinâmica fica bastante explícita: o personagem, apesar de ser bastante inteligente, é um sinistro em habilidades que demandem o engajamento do corpo. Esse desajeitamento evidencia a fragilidade do vínculo entre psique e soma, fragilidade que, para Winnicott, caracteriza a falta do envolvente em sustentar a tarefa de personalização. Nesses casos, é bastante generalidade o tipo tentar evadir à angústia gerada por essa falta ambiental se refugiando na função mental. No filme, isso também aparece de maneira clara quando Megamente aparece fazendo invenções e criando pequenas máquinas, enquanto as outras crianças estão simplesmente brincando, vivendo e experimentando o envolvente de modo proveniente. Temos, portanto, nesse personagem, uma precisa ilustração de um falso-self com a função mental sintético e exageradamente desenvolvida muito porquê desvinculada da experiência efetiva com o mundo.

Porquê ainda resta uma série de outros aspectos relevantes do filme para serem analisados e eu não quero cansar o leitor com uma exposição muito longa, continuarei o texto na semana que vem.

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Leibe Felipe

Leibe Felipe

Leibe Felipe é um Jovem Cristão, Fundador da Escola Cristã Humaniza, Especialista em Estratégias Digitais e Marketing Politíco -> @felipeleibe

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